quinta-feira, 2 de abril de 2015

Exposição A Greve

A  exposição A Greve reúne 5 painéis de graffiti com a missão de transpor o filme de Eisenstein para uma pintura em telas e a partir destas telas apresentar outra forma possível do filme. O caminho foi o encontro entre as linguagens do Grafite e do cinema de modo que uma vá construindo a outra, um livro na mão e uma câmera na cabeça, num processo semiótico de inter-relação das linguagens.

A cultura periférica encontra-se ou dialoga com Eisentein, cineasta russo (1898-1948), no compromisso em representar a situação de seu povo operário, periférico e explorado cotidianamente nas suas relações de trabalho.  O filme A Greve (1925) apresenta uma novidade, além da forma de montagem, substitui o herói individual por um coletivo, potencializando uma consciência de classe. 

Na cultura periférica o herói individual ou o grande artista abre espaço para dividir de igual para igual o espaço com o filho da Dona Maria, não existe palco, existe uma roda que brota da cultura popular feita do povo para o próprio povo. Uma produção artística para ser intitulada como periférica, mas do que a questão estética que será influenciada por esta opção, tem necessariamente um compromisso com o seu povo evidenciando o confronto e o conflito de uma sociedade desigual.

A Greve de 1925 pode representar hoje a greve dos professores no Brasil, dos caminhoneiros na Argentina, a marcha dos mineiros na Espanha, das greves gerais na Grécia, do povo nas ruas do Egito, dos trabalhadores no Camboja. Uma outra possível atualização é a pauta recente do extermínio de jovens negros na periferia de São Paulo e do Brasil. Eisenstein é atual, seu espectro ronda nossa produção, seus filmes são modernos mais ainda filmados em preto e branco no cinema mudo. 

Painéis: Beto Silva
Idelaização: David Silva, Alisson da Paz e Beto Silva
Texto: Gil Marçal


PAINEL 1 - TUDO PARECE CALMO


PAINEL 2 - O MOTIVO DA GREVE


PAINEL 3- A GREVE SE PROLONGA


PAINEL 4 - A FÁBRICA PAROU


PAINEL 5 - O EXTERMÍNIO


Quem ganha o edital do VAI se distancia da Cultura Periférica?

Essa foi a pergunta feita para mim pelos realizadores do podcast Frequência da mata, que mensalmente produz programas para a internet juntando música independente com assuntos de relevância social. Neste caso estava eu como entrevistado respondendo a questões sobre o Programa VAI, do qual coordeno nos últimos 3 anos mas já trabalho a quase 7 anos. O VAI - Valorização de Iniciativas Culturais é daSecretaria Municipal de Cultura de São Paulo e financia pequenos projetos culturais, principalmente de grupos e coletivos de jovens que produzem ações culturais na periferia da cidade de São Paulo. 

Sem aprofundar é preciso explicar que o termo Cultura Periférica ganhou força nos últimos anos, tendo como seu abre alas a literatura produzida escritores e poetas que principalmente a partir dos anos 90 começaram a experimentar a potencializar suas ações de forma semelhante ao movimento de literatura marginal, divergente ou ainda maldita que entre os anos 70 e 80 levantaram a bandeira do artista independente e as relações ou não com o mercado editorial, a mídia e a sociedade em geral, tendo como eixo principal as formas de reflexão do artista sobre a sociedade, produção e difusão de sua obra, seja ela ofertada gratuitamente ou ainda cobrada, mas desde que apresentada a população com preços justos e acessíveis aos populares. 

Tanto nesta época quanto desde que a atividade artística passou a ser considerada um bem imaterial passível de peso e medida da esfera econômica, esta reflexão acompanha e inquieta seus realizadores. Para tanto então é preciso afirmar que existe atividade artística que principalmente é pautada pelo  mercado, por interesses de empresas em prol de produtos,  como também instituições religiosas ou ideológicas ou ainda simplesmente pela consolidação do mercado e da industria específica da cultura. Justamente os primeiros registros que temos da existência da sociedade são resultados do processo de "aculturação" do homem em sua necessidade de expressão e manutenção das emoções dessa memória vivenciada. Desde que conhecemos o homem ele desenha na parede e da as mãos em roda para cantar, contar histórias ou antes disso para sua proteção individual por meio do bando e a produção artística consolida a existência dessa cultura

Os grandes dilemas da sociedade contemporânea, antes de Marx e depois de Lula, continuam sendo a sobreposição de direitos com o mercado. É direito ter um propriedade assegurado pela constituição, desde que seja paga. É direito ter uma boa instituição de educação, desde que seja para poucos ou cara. É direito ter cuidados com a saúde, mas precisa ser (AMIL) particular por que a oferecida pelo setor público (SUS) é muito ruim. Mas mesmo entre os direitos a que separar em duas categorias: a material e a imaterial. 

Na categoria material podemos citar as propriedade como casas, carros, outros bens ou mesmo os serviços que tem características de divisão ou exclusividade e no imaterial podemos nos referir a educação, cultura, conhecimentos de interesse social que tem características de multiplicação. Justamente quando os bens imateriais são incluídos dentro da esfera dos serviços que a atividade cultural ou de conhecimento passa a ter peso e medida, agregado ao reconhecimento público da obra ou dos serviço. Aqui temos a enorme distância entre os serviços utilizados pela classe média ou alta na área da educação, saúde, cultura e outros em contraposição com esses mesmos serviços oferecidos pelo governo orientado pela sociedade de direitos.  

Separemos então as atividades de produção que tem potencial de sustentabilidade econômica e as que não tem e ambas são comercializadas. O governo é colocado como ponto mediador entre os interesses da economia e da população, este se coloca no papel de corrigir e suprir os direitos não acessíveis a todos, por meio da falta de poder econômico, gerado pela mecânica do capitalismo que institui o lucro e a mais valia, o empregado e o patrão, o explorado e o explorador, sendo toda essa engrenagem sustentada por conceitos morais que estruturam essa sociedade, ou seja, por meio de um pensamento dominante. O empregado só é empregado por que aceita e assume essa postura, introjetada desde seu nascimento e promovida a séculos.   

Logo, aprendemos na universidade ou atualmente em alguns botecos da periferia nos saraus, como antes também foi possível aprender isso nos bancos da igreja católica, por meio da teologia da libertação, que a sociedade é regida por uma pequena quantidade de pessoas, as que detém poder financeiros ou institucionais, que pautam as leis que legitimam sua ação como a mercantilização dos direitos em si para garantir sua soberania diante do resto da população, a maioria. Todos tem direito, mas alguns tem mais direitos que outros. 

Além de deterem os meios de produção, a grana para fazer a casa noturna, a cara do artista na Globo para estampar nos cartazes de divulgação, os grandes musicais da broadwey, horas de rádio comprada com a mesma música martelando na cachola dos populares (nós), ainda acessam recursos do governo para aumentar o seu lucro. Exemplo claro é a Lei Rouanet, incentivo fiscal para empresas abaterem do pagamento do imposto de renda o que patrocinou para a cultura, que é possível lembrar de algumas polêmicas como o blog de poesias de Maria Bethania, a qual adoro por sinal, que previa a captação de R$ 1,3 milhão porém a cantora desistiu após grande crítica de artistas independentes. Outro caso foi em 2006 quando o Cirque du Soleil captou R$ 9,4 milhões e que na época cobrava entre R$ 50 (meia entrada) e 370 reais (VIP). É frequente a crítica da "seleção" dos projetos de cultura que terão recursos do estado, por meio dos impostos, serem pautados por marqueteiros de grandes empresas e bancos. Ao final os bancos criam seus próprios Centros Culturais e divulgam seus nomes como apoiadores e realizadores da cultura. Opa, não seriam justamente os bancos que alcançam lucros exorbitantes? Em 2011 o Itaú lucrou R$ 14,62 bilhões, 

Certo dia ouvi da boca de um aristocrata, que ao ouvir realizadores da "cultura periférica", disse que o discurso era sempre o mesmo, dinheiro para suas produções, que todos queriam dinheiro, inclusive ele, aristocrata da classe média alta, e novidade mesmo ninguém apresentava. De fato, os artistas da periferia produzem seus cenários com material reciclado, transformam bares em centro culturais, distribuem livros e poemas em terminais de ônibus, batem os tambores da cultura popular, entre outros, sem nenhum tipo de apoio financeiro, realmente não é novidade para ninguém. 

Para essa pequena elite branca (dona de grandes empresas e bancos) é extremamente interessante que os artistas da periferia ou independentes, tenham receito de buscar dinheiro público para suas produções. Interessa a essa elite essa imagem vendida de que o cara, do lado de cá da ponte, que aceita o dinheiro público seja taxado de mercenário ou vendido, não é bom tocar neste dinheiro maldito, é melhor que essa pequena elite, que já está suja, faça isso por você.

Em meio às últimas grandes crises mundiais era comum ouvir no noticiário o incentivo, dinheiro, dado pelo governo para que bancos particulares não quebrassem, ou seja, o governo dando dinheiro para bancos, claro que também pensando nos clientes, para que eles conseguissem se manter ativos, mas que ao final tem como objetivo último o lucro pelo serviço prestado. Não tenho capacidade de discutir mais sobre isso. 

Voltando ao que interessa, se um dos papeis mais importantes do estado é proporcionar a população seus direitos mais essenciais, o que fazemos diante deste cenário onde o governo do estado reservou para a sua lei de incentivo, os projetos que as empresas escolhem patrocinar, R$ 118 milhões em 2011 e para este mesmo ano os projetos com financiamento direto, sem a empresa, recebeu R$ 25 milhões? Artista de periferia ou independente conhece o marqueteiro da grande empresa? Conhece o dono do banco? Pega dinheiro público e vendo ingressos populares por R$ 200 reais?

Se o dinheiro é público ele deveria servir aos que menos tem dinheiro e não aos que mais tem e romper este medo do acesso ao recurso é mais que necessário, é justiça. Já fui chamado de social democrata, não sei na verdade o que eu sou, mas de uma coisa eu tenho certeza, é digno que os artistas independentes tenham prioridade, se não exclusividade, ao apoio de suas obras e ações culturais. Gostaria de vivem em mundo de esquerda, de distribuição de renda, de real igualdade de direitos, mas vivo no Brasil em 2012.

Sobre especificamente estes artistas que são da periferia e gastam suas horas livres, criatividade, força de vontade, seus salários para compartilharem seus fazeres artísticos com a Dona Maria, sua vizinha, com o Zé da pastelaria ou com o João que tem 7 anos, digo que eles tem mesmo que acessar o dinheiro público para suas produções. O VAI financiou 176 projetos em 2012 com o valor máximo de R$ 23 mil e com um orçamento total de R$ 4 milhões. É um programa de baixo orçamento nas duas mãos, tanto do investimento do governo quanto do recebimento para os realizadores, mas não é pautado pela lógica do mercado. Existe ainda, como já dito anteriormente o Proac Editais que investiu R$ 25 milhões em 2011 para projetos entre R$ 20 e 150 mil,  o Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo que aportou R$ 12 milhões para 45 grupos com valor máximo de R$ 700 mil para cada. O Programa Cultura Viva, com destaque aos Pontos de Cultura que dinamizaram a atividade cultural no país. Na verdade entendo que os tempos foram de avanços, mas ainda falta muito.  

Ser um realizador da Cultura da Periferia antes de tudo está conectado com o reconhecimento da ideia periferia, o compromisso em falar para mas também ouvir a Dona Maria, de compartilhar saberes, apresentar ideias, explodir vontades.e não sossegar enquanto houver algum tipo de injustiça. Sua pauta, motivação e vida é essa pela própria natureza e não para pagar de gatinho. Há os que se afastam disso, mas automaticamente quando perdem esse vinculo também perdem sua matéria de inspiração mais divina, a alma do seu povo. E então suas composições ou criações podem até agradar há alguns, podem até virar cultura de massa, mas sem esse vinculo fica superficial. O problema não é pegar o dinheiro, é perder o essencial, o compromisso.

Concluindo, entendo que os que conseguiram ter acesso há algum recurso público, seja VAI, Fomento, Proac ou Cultura Viva e perderam seu compromisso com esse povo é que se afastaram da Cultura Periférica. Também há muitos que nunca tiveram este compromisso mas que se travestiram ou utilizaram o discurso para pegar verbas, mas que ao final o tempo resolve, murcham por si, serão eternos parasitas e é preciso ficar atento para não contribuir com estes também, "eu odeio explicar gíria". A Cultura Periférica nada mais é do que uma ideia, uma intenção, um sentido para tudo isso que fazemos, nada mais. 

Mas de acordo com meu olhar, até privilegiado, a galera que faz a diferença na quebrada, faz com ou sem dinheiro, mas quando tem dinheiro o acabamento da obra ou da ação é melhor e esse povo precisa do melhor.

Rolezinho, mais simples do que parece


Ao mercado cabe experimentar seu próprio veneno. Aos governos, se inteligentes, aproveitar a potencialidade de quem mobiliza milhares para encontro despretensioso e barato

Por Gil Marçal*
É próprio da juventude, principalmente na adolescência, a busca por identidade. A cultura, sobretudo por meio da música, tem um papel fundamental nessa construção. Podemos citar o rock progressivo nos anos 60, o movimento punk nos anos 80, o hip hop na virada dos 80 pros 90, o movimento clubber ou o grunge nos anos 90 e, por que não, o funk na atualidade. De qualquer forma, não podemos negar a importância da cultura e das tendências comportamentais, para a juventude, na constituição de sua identidade. São referências catalisadoras de um sentimento contemporâneo num contexto temporal.
Os shoppings centers também se colocaram para esta juventude como um espaço de constituição de identidade, neste caso uma identidade individualista, afirmada a partir de marcas e grifes, promovidas e vendidas cotidianamente por uma ideologia de consumo – daí a máxima “consumo, logo existo”. Os jovens da classe média com meios financeiros para comprar essa identidade são acolhidos por essa lógica, enquanto os jovens das classes baixas se esforçam para adquirir, no mínimo, um tênis e um boné “de marca”, muitas vezes por meio de pesada pressão em cima dos pais – frequentemente mães solteiras –, para inserir-se socialmente por meio do consumo. 
É fácil criticar o funk, principalmente o que ficou conhecido como funk ostentação, que se afirma pela posse de bens como correntes e relógios de ouro, carros importados e marcas famosas. Mas é comum que não se leve em consideração o comercial do carro importado a partir de 70 mil reais, apresentado exaustivamente na TV aberta, sagradamente no horário nobre de cada dia, mas que não é para todos, é para quem pode se destacar, para quem pode ser “diferente”.
É nessa confluência entre a identidade coletiva, promovida pela cultura, e a identidade individualista, promovida pelo consumo, que reside o choque entre o rolezinho e o shopping center.
O capital força o governo a não cercear o mercado, restringindo seu papel apenas ao incentivo, principalmente com a redução dos impostos, como no caso do IPI aplicado aos automóveis e eletrodomésticos de linha branca. Mas quando se discute o caos em que as grandes metrópoles se encontram, com a superlotação por veículos individuais, atribui-se a culpa ao Estado pela falta de transporte público eficiente e de qualidade. Quando o Estado tenta responder a esta demanda criando corredores de ônibus, é atacado de forma violenta pelos meios de comunicação, que chegam a influenciar outros poderes, como é o caso da ampliação dos corredores de ônibus, que está sendo coibida por juízes a serviço dos empresários do ramo automobilístico. Um sistema que impede a tributação mais justa do IPTU, em nome da economia de migalhas para uma classe média gananciosa, em detrimento da justiça social.
Os empresários apresentam o shopping center como espaço de conforto e segurança de certo padrão de comportamento, onde jovens não podem marcar encontros em grande escala, perturbando a “ordem” e causando “constrangimento”. E delegam ao Estado (governos) a responsabilidade de promover espaços que acolham estes jovens com lazer e entretenimento. Os shoppings condensam dentro de um só espaço o suprassumo da vida urbana, como os games e os cinemas, as tendências da moda e da tecnologia, a alimentação e por consequência o convívio. Tudo o que é importante para a juventude.
Os shopping centers se caracterizam por serem espaços privados de acesso público. Ao negarem que são espaços de acesso público, perdem o direito de acionar os serviços públicos, como no caso a segurança urbana por meio das forças policias. Os jovens têm, pois, total direito de realizar seus encontros nesses espaços, uma vez que o interesse é público. Não poderiam ser coibidos, constrangidos ou agredidos, tendo em vista que, frente a qualquer necessidade real de acionar as forças públicas, a conta seria paga com dinheiro do próprio povo. As estações de metrô conectadas aos shoppings centers são exemplos desta mesma lógica. Que interesse haveria nesta conexão se o acesso não fosse, de fato, público?
O rolezinho é parte das necessidades inerentes da juventude: necessidades de convívio, de diversão, de encontro. Mas o rolezinho no shopping center é fruto do sistema capitalista, que relaciona afetividade e consumo – haja vista alguns comerciais que praticamente nos fazem chorar de emoção e, ao terminar, apresentam marcas de refrigerantes, eletrodomésticos, carros e outros produtos, pondo à venda a felicidade humana a preços elevados.
Teóricos de direita, esquerda e jornalistas apresentam suas teses sobre o fenômeno. Os de direita vendem a ideia de uma juventude desinteressada e marginal, sendo que, na totalidade dos rolezinhos, não houve arrastão nem roubo de mercadorias. Sugerem ainda que os rolezinhos ocorram em bibliotecas e que os jovens busquem informação e emprego – mas, estes encontros não têm ocorrido justamente nos finais de semana? Os de esquerda evocam o apartheid não institucional no Brasil e as questões de raça e cor, e se manifestam contra a sociedade de consumo e a segregação social. Mas estes jovens, como já dito, estão calçando tênis da marca em voga, ainda que a duras penas. A imprensa fala em baderna e perturbação da ordem, principalmente do MEDO gerado por estas concentrações. Mas pânico e correria, ao que parece, foram decorrência da ação dos seguranças e da polícia militar. Ir e vir, só se for para consumir.
Os rolezinhos são apontados como espaços de uso de drogas e geração de violência, como se não houvesse trotes violentos e drogas nas escolas particulares e universidades de grande reconhecimento. Além disso, fora os títulos sensacionalistas, não é o que a própria mídia impressa apresentou sobre as experiências ocorridas no último mês. Em suma, os eventos ocorreram de forma pacífica, sem roubos ou violência. O que realmente pega é que os rolezinhos atrapalharam o que há de mais sagrado para a sociedade de consumo: as vendas. E a ideia de proteção e segurança, que tem a maior importância para nossa sociedade.
Essa geração reconhece o shopping como espaço de referência e de segurança, o que contribui para a tranquilidade de seus pais, vendo a rua como local inseguro. Vale lembrar que, quando estes jovens se encontram nas ruas, também são coibidos, por meio da força, para dispersar. O poder das redes sociais ainda é pouco assimilado pelos adultos. E a reflexão deste momento não pode deixar de fora o genocídio da juventude pobre, negra e periférica – tão discutida pelos jovens ativistas da periferia.
Voltemos à nossa adolescência e evoquemos o que motivava nossos 14, 15 ou 16 anos. Tentemos olhar este fenômeno contemporâneo de forma genuína. Observemos então o que estes jovens têm dito sobre seus encontros, e perceberemos que o que os motiva são as “curtições”, “se divertir”, “pegar geral”, “beijar” “sem alastrar”, “sem fazer arrastões” ou cometer “vandalismos”. Talvez então possamos ter propostas de troca ou interação com essa galera, que se apresenta como sujeitos de uma necessidade de convívio, e não como pequenos marginais que acabam com a “ordem”. São sobretudo adolescentes e jovens que moram nas periferias da cidade, que estudam em escolas públicas, falidas, e que buscam o direto de serem adolescentes e jovens – apenas isso.
A coibição destes encontros pode até politizar o “movimento”, dentro dos moldes conhecidos por nossa forma de fazer política. Mas como consequência, e não como ponto de partida. Aqui, o mais próximo do que chamamos de política está no simples encontro: no conhecer outras pessoas, no beijo.
Ao mercado cabe experimentar um pouco das consequências de sua própria forma de ser, experimentar seu próprio veneno. Aos governos, se forem inteligentes, cabe aproveitar a potencialidade dessa galera de 16 anos, que mobiliza mais de mil pessoas para um encontro despretensioso e economicamente barato. Esse poder de mobilização para a cultura é um prato cheio, enquanto teatros e bibliotecas estão vazios.
*Gil Marçal tem 34 anos, nascido e criado na região do M’Boi Miriam na periferia da Zona Sul da cidade; na adolescência começou a fazer produção cultural, depois foi Coordenador do Programa VAI e atualmente dirige a área de Cidadania Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Duas agendas atuais da cultura.


Gostaria de escrever um texto, mas o tempo não ajuda, vamos pelo menos tocar nos títulos para somar nos debates.
PRIMEIRA: os programas de Fomento (financiamento para as linguagens artísticas e projetos culturais por meio dos prêmios, convênios, co-patrocínios, contratação etc.) dos governos federais, estaduais e municipais.
SEGUNDA: os equipamentos públicos (espaços físicos de atendimento direto dos governos ou ainda geridos por grupos como teatros, centros culturais, oficinas culturais, casas de cultura, bibliotecas entre outros.
Estes dois eixos tem sido, no momento, brutalmente prejudicados devido a crise econômica, que para mim além de ser um problema global, no caso do Brasil, é um tanto inventada, ou seja, de tanto falar em crise ela se torna realidade.
Vemos neste momento, mais que nunca, os diferentes atores que promovem ação cultural nos diversos território do país batalharem fortemente para que possa ser garantida a manutenção destes dois eixos na prioridade dos setores culturais públicos.
É constante os processos de mobilização entorno dos espaços culturais, sejam eles públicos, privados ou privados de natureza pública. Os grupos se articulam na defesa de um espaço cultural é ameaçado por entender a importância dos locais que promovem o fortalecimento da arte e das práticas culturais.
São diversos os abaixo assinados, petições, ocupações ou manifestações para que tenha um melhor atendimento nos serviços culturais ou para não perder um equipamento, público ou privado, já existente.
Há ainda uma grande mobilização para fortalecer o orçamento da cultura, buscando assim um NÃO retrocesso de algumas poucas conquistas alcançadas dos Programas de financiamento, que promovem uma atuação em conjunto dos Grupos Culturais e do Estado, podemos citar os Pontos de Cultura, Fomento ao Teatro e Dança, VAI, Editais de Cinema entre outros,
Mas a crise, invetada ou não, está ai batendo na porta, corroendo o metal com ferrugem, destruindo os brotos das plantações recentes, trabalhando para o não fortalecimento da reflexão crítica e consequentemente o enfraquecimento da cidadania.
Como diz Juca, enquanto não entendermos a cultura na centralidade do debate da sociedade, não vamos dar o passo que falta para a constituição de um país socialmente mais justo e por consequência economicamente também.
Estas duas agendas , os espaços culturais e os fomentos, já estão assimiladas pelos grupos culturais e por parte da população como um dos direitos básicos de acesso e experimentação da arte e da cultura e neste ponto não é possível haver retrocesso.
"como dizia minha santa maezinha, depois comemos uma carne de primeira, não queremos voltar a comer de segunda."
É necessário encontrar um caminho que reconheça os espaços culturais, públicos e os privados de natureza comunitária, como serviço de utilidade pública, e no caso das parcerias com os grupos culturais entendê-la como necessária na promoção da cidadania.
A Cultura não cabe mais na Cultura, seu antigo orçamento somado aos cortes que tem acontecido na área representam colocar mais água em um feijão que já estava ralo. A crise também é cultural.