sábado, 25 de julho de 2009

TV - preto e branco

Hoje, na era da TV Digital, a das telas planas e imagem em HD, lembrei-me da herança deixada por meu pai – uma tv preto e branco, 20 polegadas, caixa de madeira e seletor para mudar os canais que tínhamos no barraco também de madeira em que morávamos na periferia da cidade no início dos anos 80.
Era sábado - e sábado, como todo mundo sabe, traz consigo uma expectativa mágica de um pouco mais.
Aquele sábado passaria pela primeira vez na tv o primeiro filme do Super Homem e todos aguardavam insistentemente o horário indicado para sermos heróis infinitamente. Meu irmão mais velho vigiava o relógio de pulso da minha mãe constantemente, apenas para garantir que o tempo não esquecesse de levar consigo cada minuto faltante.
Finalmente a Globo anunciou o filme e meus três irmãos e eu nos reunimos em volta da caixa mágica da imaginação para nos deleitarmos com toda aventura e potência exalada pelo herói americano.
Até que a imagem da tv deu uma piscada, e outra, e ainda outra mais. Voltou a imagem e parou o som. De repente o Super Homem foi sendo esmagado e encolhido por minha tv, até virar uma lista fina e branca que cortava a caixa mágica de ponta a ponta deixando, todo o resto no escuro.
Rapidamente meu irmão bateu em cima da caixa da imaginação, com a esperança de faze-la reviver nosso tão esperado filme. Mas ela não resistiu. A tv morreu bem na nossa frente enquanto exibia o sonho de cada homem – o de ser indestrutível.
Naquele momento entre tumulto e agitação de todos, perdemos nosso último grande vínculo com nosso pai, que havia ido embora quando eu, o mais novo, havia completado o primeiro ano de vida.
Fomos impedidos de participar do que havia de máximo em toda a atualidade, fomos excluídos bruscamente da única coisa que acontecia no mundo. Um misto de frustração e angústia dominava o ambiente, quando de repente minha mãe disse:
- Troca de roupa rápido que nós vamos lá na casa da comadre Maria, que o Maxwell deve estar assistindo também.
O Maxwell era filho da comadre da minha mãe e meu melhor amigo, tinha a mesma idade que eu e brincávamos diariamente desde os três anos. Agora éramos grandes, já tínhamos cada um 5 anos e meio.
Na casa de nossa comadre Maria terminamos de assistir o filme mais importante do mundo, naquele sábado, e voltar para casa saciados da comunhão do entretenimento.
Mas como no Brasil as coisas sempre são um pouco diferentes do lado de lá, o herói não foi o homem - foi a Mulher. A de todos os dias, não apenas do sábado.

Michael e Eu